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É nossa missão lançar a semente no chão


Publicado em 15 Julho de 2023
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Neste 15º domingo do Tempo Comum, temos um longo texto do capítulo 13 de São Mateus, contendo 23 versículos, em que Jesus conta uma parábola, do semeador, a explica para os seus discípulos, e justifica no meio do texto o porquê utiliza as parábolas para falar dos mistérios do Reino.

A parábola é uma comparação que revela ou ilustra algum aspecto da vida. Jesus usa desse recurso para explicar os mistérios do Reino de Deus, partindo da realidade conhecida do seu povo, mas também deixando um pouco de segredo, encobrindo. Ele usa imagens simples, diferente dos discursos complicados utilizados pelos escribas, de difícil compreensão ao povo. Usa imagens familiares ao seu povo e do seu conhecimento, da sua cultura rural: o semeador, a semente, a árvore, a terra, o peixe, o pescador, o rebanho, o pastor, a ovelha... Ele é compreendido e encanta o coração das pessoas simples, que ficam fascinadas com o seu ensinamento cheio de vida.  A parábola pode ser comparada com o retrovisor que a gente olha para alcançar muito além dele, visando compreender aquilo que está para além daquela realidade retratada.  Mateus diz que Jesus sentou-se numa barca junto ao lago, e explicou muitas coisas em parábolas à multidão que se encontrava de pé. O capítulo 13 de Mateus contém um total de 7 parábolas, as demais virão nos dois próximos domingos, como a parábola do joio e do trigo, da semente de mostarda, da rede lançada ao mar, do tesouro escondido...

Quando a parábola do semeador foi escrita, os cristãos enfrentavam um contexto hostil, em que aparecem as primeiras perseguições, quando já tinha sido rompida a relação com as sinagogas, que não mais aceitavam a presença dos cristãos. Eles devem sair, ir para outros ambientes e regiões. Jesus os envia a todos os povos.

Mateus inicia o seu texto dizendo que uma grande multidão se reuniu em volta de Jesus (v. 1). O povo é atraído por Ele, pois da sua vida brotava o amor. E quem não se sente atraído pelo amor? Por um olhar amoroso, por uma palavra de amor, por um gesto de carinho?

Três elementos se destacam na nossa parábola: o semeador, a semente e o terreno onde ela é lançada.

Jesus diz que o semeador saiu a semear, a lançar a semente em diversos tipos de terrenos. A cultura agrícola deles era bem diferente da nossa, onde primeiro preparamos a terra: aramos, adubamos, calcariamos... depois lançamos uma semente selecionada na quantidade adequada. Na cultura deles, lançavam as sementes sem essa preocupação anterior, mas previam uma perda das sementes lançadas, dependendo do terreno em que a semente caísse. O contexto é de dificuldade para os cristãos, por isso a constatação de que algumas sementes não irão prosperar. Alguns cristãos não vão perseverar na caminhada de fé. A intenção é convidar as pessoas a serem perseverantes, terra boa. A parábola nos convida a não desanimarmos na caminhada, a não desistirmos nos momentos difíceis.

O primeiro elemento destacado por Jesus é o semeador. Certamente Ele próprio foi o primeiro a semear ao longo da sua vida. Como Ele, também somos chamados a lançar a semente na terra, fazer a nossa parte. Se não for lançada na terra, a semente nunca produzirá. Uma semente guardada na geladeira perde sua fertilidade. Permanecendo na lata, a semente nunca se transformará numa plantinha. Lançar a semente depende de nós. Se ela vai produzir, não depende apenas de nós, mas das diversas circunstâncias: da terra, da chuva, e outros fatores. Jamais a semente vai nascer, crescer e frutificar se nós não a lançarmos na terra. É nossa missão lançar a semente no chão.

O segundo elemento da parábola é a semente. Como cantamos, “a Palavra é a semente que Jesus jogou no chão”. Lançar a semente é anunciar a Palavra. Claro que a Palavra é mais do que fonemas, é expressão da nossa vida. Por trás dela está alguém que a pronuncia. Ela não é som vazio, mas expressão da nossa vida de fé, manifestação do nosso amor. A semente é a Palavra, uma palavra que se tornou carne e veio habitar entre nós. É uma Palavra viva e eficaz, que sempre produz vida. Na semente está a força vital. Jesus é a Palavra, é a semente lançada na sepultura que desabrocha em vida, que vence a morte e nos devolve a esperança.

O terceiro elemento é o terreno. Conforme Bortolini[1], ao falar do terreno Mateus convida a olhar para dentro da própria comunidade. A ver como estamos acolhendo a Palavra, não somente como a lançamos. Antes de lançá-la, devemos tê-la no nosso coração. Três tipos de terrenos representam os obstáculos à palavra: o chão batido à beira do caminho (v. 19), símbolo da superficialidade; o terreno pedregoso (vv. 20-21), símbolo das perseguições, que provocam desânimo; o terreno com espinhos (v. 22), símbolo das preocupações do mundo e da ilusão das riquezas. O quarto terreno é o ideal, a terra boa (v. 23) que acolhe a Palavra. Esses quatro tipos de terrenos podem estar presentes no nosso coração. Às vezes essas realidades se misturam na nossa vida.

O papa Francisco nos convida a ser como o semeador Jesus Cristo. Diz ser “vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém” (EG. N. 23). Diz ainda que é tarefa diária, que compete a todos, levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos (...) ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus” (EG n. 127).   

+Dom Jeová Elias

Bispo Diocesano

 


[1] Bortolini, Pe. José. Roteiros Homiléticos, anos A,B, C – Festas e Solenidades, Paulus p. 185;


Fonte: Diocese de Goiás