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Cuidar do trigo e não perder a paz por causa do joio


Publicado em 22 Julho de 2023
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Continuamos, neste 16º domingo do Tempo Comum, a narrativa das parábolas do Reino iniciada domingo passado. Hoje temos mais um bloco contendo três parábolas:  do joio e do trigo (vv. 24-30), exclusiva de Mateus, da semente de mostarda (vv. 31-32) e do fermento na massa (v. 33). Finalmente, em particular, Jesus explica aos discípulos a parábola do joio e do trigo (vv. 36-43).

As parábolas possuem linguagem instigante, cheia de simbolismo. Elas provocam as pessoas a refletirem e decidirem. No caso das parábolas deste domingo, descobrindo os valores do Reino de Deus e aderindo a eles ou rejeitando-os. O Reino está no centro das 7 parábolas do capítulo 13 de Mateus. Essas parábolas apresentam comparações entre o projeto que Deus tem para o seu povo, e a realidade vivenciada, o que o povo conhece do seu cotidiano. O conceito de Reino, próprio da linguagem sociopolítica, da monarquia, é utilizado para falar do reinado divino, certamente com as devidas ressalvas. A implantação desse sistema político em Israel ocorreu sob tensão. Havia resistência na mudança do sistema tribal, para a monarquia. O livro de Juízes, para rejeitá-lo, apresenta uma fábula sobre a eleição equivocada, realizada pelas árvores, daquela que deveria reinar sobre todas: o espinheiro (cf. Jz 9,7-15). O Reino de Deus é marcado por valores que os reinos terrenos não se empenham em acolher. “Reino eterno e universal: reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”, como rezamos na Oração Eucarística n. I.

Na parábola do joio e do trigo (vv. 24-30), Mateus apresenta a comparação que Jesus faz entre o Reino dos Céus e o homem que semeou boa semente no seu campo. Também o inimigo, às escondidas, semeou joio no meio do trigo (vv. 24-25). Quando as plantas começaram a crescer, percebeu-se o joio no meio. Os servos sugerem ao patrão arrancar o joio, mas ele rejeita essa proposta, pois poderá afetar também o trigo. Ambos devem crescer juntos; ao final será feita a seleção e a destinação correta dos dois: o trigo para o celeiro e o joio para o fogo. O campo é símbolo do mundo, da nossa história com seus valores e limites; os servos que propõem arrancar o joio representam os crentes marcados pela rigidez e intolerância, desejosos de matar as pessoas que julgam erradas; o trigo simboliza a beleza da vida, a esperança e o amor que tornam o mundo mais bonito; o joio representa os sinais de morte presentes no mundo. A parábola mostra a paciência de Deus. Jesus conviveu com pessoas pecadoras, tocou nelas e deixou-se tocar por elas. Ele não quis a morte do pecador, mas que este vivesse a beleza da vida concedida por Deus, conforme a vontade divina. O Salmo da missa deste domingo destaca que Deus é paciente, é bom e clemente, é perdão, Ele escuta os lamentos de quem sofre (cf. Sl 85,5-6.9-10.15-16a). Deus não é intolerante, concede a liberdade aos seus filhos, mesmo sob o risco de não a usarem bem. Ele sabe esperar até o último momento.

Mateus escreveu seu Evangelho por volta do ano 80, quando alguns cristãos eram tentados a desanimar, a não perseverar nos valores do Reino. Sua intenção, ao usar alguns símbolos do juízo final, como a fornalha e o ranger de dentes, é convidar à perseverança na fé. Com a parábola do joio e do trigo, ele ensina a importância de perseverar na prática do bem e de não permanecer nas coisas erradas. No coração humano, muitas vezes, estão presentes o joio e o trigo, mesmo que haja quem divida as pessoas em duas categorias: do bem e do mal. O joio nunca se transformará em trigo, mas uma pessoa pecadora pode mudar de vida; alguns santos comprovam essa possibilidade. A parábola convida-nos a ser pacientes, não passivos; a ter consciência dos nossos limites, mas também desejo e empenho em superá-los.

A parábola da semente de mostarda (vv. 31-33) mostra o contraste entre a pequenina semente e sua potencialidade para se transformar numa grande árvore, que serve de abrigo aos pássaros. Com essa comparação, Jesus quer dizer que o Reino de Deus é discreto, não pretende o poder humano, tem outros valores. O Reino está presente entre nós, embora muitas vezes pareça imperceptível. O olhar de fé o alcança. Ele foi inaugurado por Jesus e continua a ser construído com a nossa colaboração. Como uma sementinha lançada por Jesus ao solo, ele cresceu por todo o mundo, lançou ramos por toda a terra e somos abrigados neles.

A parábola do fermento na massa, como a anterior, mostra o contraste entre uma pequena porção de fermento e uma quantidade maior de farinha. Misturado na farinha, o fermento tem a capacidade de multiplicá-la. Ele simboliza a presença do cristão no mundo. Presença eficaz e discreta, que não deve ser mostrada de modo espetaculoso, mas nas ações que ajudam a construir um mundo melhor, conforme o projeto de Jesus. O papa Francisco, ao falar sobre os desafios da cultura urbana, constata graves problemas: o tráfico de drogas e humano, o abuso e a exploração de menores, o abandono de idosos e doentes, várias formas de corrupção e crimes. Diante desses desafios, Francisco nos exorta a proclamar o Evangelho como caminho para restabelecer a dignidade da vida humana, sem rigidez. “Viver a fundo a realidade humana e inserir-se no coração dos desafios como fermento de testemunho, em qualquer cultura, em qualquer cidade, melhora o cristão e fecunda a cidade” (EG n. 75), afirma Francisco.     

Mateus conclui o Evangelho deste domingo com muito otimismo: “os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai” (v. 43). Essa afirmação nos motiva a caminhar nos valores do Reino. A superarmos a tentação do pessimismo diante dos problemas que constatamos no mundo. A cuidarmos do trigo e não perdermos a paz por causa do joio, pois “o semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reações lastimosas ou alarmistas” (EG n. 24). “Não deixemos que nos roubem a esperança! ” (EG n.86).

+Dom Jeová Elias

Bispo Diocesano

 


Fonte: Diocese de Goiás