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Continuamos acompanhando Jesus na sua caminhada rumo a Jerusalém. Ao longo do caminho Ele ensina, realiza gestos, apresenta as condições para o seu seguimento. Segui-lo exige desapegar-se de algumas amarras. Parece difícil. Por isso, é necessário ter muita fé e disposição para servir com generosidade e gratuidade.
No Evangelho deste domingo destacam-se duas ideias: o pedido dos apóstolos para que Jesus aumente a fé deles (v. 6); e a parábola contada por Jesus comparando ao serviço do Reino a tarefa cumprida por um empregado (vv. 7-10).
Os apóstolos pedem a Jesus: “Senhor, aumenta a nossa fé” (v. 6). Certamente, esse pedido brota em vista da consciência do quão difícil é o seguimento de Jesus. Manifesta a preocupação dos apóstolos quanto à dificuldade em trilhar o caminho do Reino rumo a Jerusalém. O que eles desejam não é que cresça o conhecimento dos ensinamentos, nem a adesão a um conjunto de verdades abstratas, a uma doutrina trazida por Jesus, mas a capacidade de aderir à proposta do Reino apresentada por Ele e a coragem de assumir as consequências advindas. O que eles querem é acreditar para valer em Jesus Cristo e aderir à sua proposta do Reino de Deus. A fé em Jesus Cristo é uma energia que irrompe na vida humana a partir do encontro pessoal com Ele e que muda toda a história daquele que o encontrou. A partir desse encontro, a pessoa já não viverá mais centrada nos seus próprios interesses e na utilidade individual, mas para Cristo e, por causa dele, para os demais (Cf. Buttiglione, Roco, Los movimientos populares a la luz de la Teología Pastoral, in la irrupción de los movimientos populares, p. 187).
A resposta dada por Jesus é curta, parece não fazer um juízo de valor sobre a fé, mas afirma a força que ela possui: de transplantar uma planta ao mar (v. 6).
A Fé é uma das três virtudes teologais, semeada por Deus no nosso coração, junto à Esperança e à Caridade. Ela é um dom que recebemos e que tem potencialidade. Como uma semente, ela contém a capacidade de se desenvolver mais, mas precisa ser cultivada, cuidada, para crescer e produzir frutos.
A fé não consiste simplesmente em aderir a um conjunto de verdades abstratas, a normas e preceitos frios, mas a uma pessoa: Jesus Cristo. Essa adesão traz, como consequência, o acolhimento do seu ensinamento e a imitação dos seus gestos. Quem acredita em Jesus Cristo deve pautar a vida pelo seu ensinamento. A fé nele nos leva a crer no mistério, por Ele revelado, de um Deus Trinitário: Pai, Filho e Espírito Santo. Leva-nos também ao ingresso na nossa Igreja e a construir relações fraternas. Alarga o nosso horizonte para o além, para o transcendente, para o absoluto de Deus, para a vida eterna.
A segunda ideia do Evangelho deste domingo é o serviço do Reino de Deus. Jesus compara o serviço generoso dos seus discípulos ao dos servos que têm a obrigação de servir ao seu senhor. Esta comparação não é para justificar a relação serviçal entre as pessoas, mas para destacar a graça de poder servir a Deus. O serviço do Reino não é um peso demasiadamente pesado posto nas nossas costas, mas a oportunidade para ajudar a construir um mundo melhor. Servir a Deus e aos irmãos é uma graça que não podemos desperdiçar. A afirmação de Jesus “somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer” (v. 10), significa o reconhecimento da nossa pequenez diante da grandeza da missão que Deus nos confia. Ela nos assusta! Pensamos ser incapazes de cumpri-la.
Estamos iniciando o mês missionário com o tema “A Igreja é missão” e o lema: “Sereis minhas testemunhas” (At 1,8). Todos somos discípulos missionários de Jesus Cristo. Como tal, não podemos ficar acomodados na segurança dos nossos templos, mas devemos ir ao encontro dos irmãos e irmãs para testemunhar os valores do Reino e também para aprender com eles. O papa Francisco reiteradamente nos lembra que devemos ser uma Igreja em saída, que vai ao encontro das pessoas, sobretudo nas periferias geográficas e existenciais. Convida a sermos Igreja de portas abertas para sair e para acolher. Não podemos ficar acomodados na segurança dos nossos templos. Claro que é trabalhoso, cansativo e arriscado sair. Mas ficar parado não muda a nossa história. O encontro com as pessoas que normalmente não frequentam nossas igrejas é uma riqueza para nós. A ida ao encontro delas não é para doutriná-las, mas para manifestar o amor de Deus e o nosso amor. Também para crescer pessoalmente nesse encontro. Quem mais ganha é o próprio missionário. Sair de si faz bem a cada pessoa. O trabalho que realizamos não nos confere direitos trabalhistas, mas já contém a recompensa em si: a alegria de fazer o bem, mesmo na nossa pequenez.
Neste domingo exerceremos parte da nossa cidadania dando o nosso voto a alguns candidatos aos diversos encargos no nosso país. A política é uma nobre forma de caridade, que precisa ser reabilitada na sua dignidade. Votar é também compromisso de fé, conforme lembram os bispos do nosso regional na nota sobre as eleições deste ano: “Recordarmos que a fé católica, antes de ser um sentimento religioso, é resposta livre e consciente a Deus que se revela plenamente em Jesus Cristo. Por sua vez, esta resposta de fé se traduz no amor a Deus e ao próximo. A participação ativa na política é expressão desse amor, pois, mediante a política, construímos uma sociedade na qual as pessoas, com suas diferenças, convivem em paz, graças à justiça, saúde e educação de qualidade”.
Nossos bispos lembram ainda que o voto é uma das expressões da democracia. O Documento de Aparecida recorda que a democracia ainda é frágil no nosso subcontinente e, por isso, a Igreja deve colaborar na sua consolidação (Cf. DAp n. 541). Exercitemos nossa cidadania movidos pela fé, respeitando uns aos outros nas suas opções diferentes, buscando a verdade dos fatos, sem violência e construindo a comunhão entre nós. Em tudo guardemos o vínculo da caridade, no esforço em favor de um projeto de sociedade para todos. “Não permitamos que a comunhão entre nós seja enfraquecida pelas ideologias partidárias ou polarizações”. (Cf. Nota dos bispos do regional Centro-Oeste sobre as eleições 2022).
+Dom Jeová Elias
Bispo Diocesano
Fonte: Diocese de Goiás