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Permanecer em Jesus para produzir bons frutos


Publicado em 28 Abril de 2024
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O texto do Evangelho deste V domingo da Páscoa é parte do Testamento de Jesus, que vai do capítulo 13 ao capítulo 17 de João. É como o coração do Evangelho segundo João, parte essencial no seguimento de Jesus Cristo. João usa algumas imagens da cultura rural para comparar com a pessoa de Jesus, com o Pai e com os seus discípulos. Ele apresenta Jesus como a videira verdadeira; apresenta o Pai como o Agricultor e os discípulos de Jesus como os ramos da videira. A videira era uma plantação de uvas muito importante na cultura da terra de Jesus, com as exigências que trazem essas plantações, sobretudo das podas no tempo certo, para que a planta produzisse excelentes frutos. A imagem da videira foi aplicada muitas vezes ao povo de Israel como indicativo da predileção divina (Cf. Jr 2,21; Is 5,1-7). Deus plantou e cuidou daquela vinha para que produzisse frutos de justiça e santidade; ofereceu os meios necessários para que ela desse uvas boas. Mas Israel não correspondeu à expectativa divina: ao invés de produzir frutos de direito e de justiça, produziu frutos de transgressão do direito e a violência (Cf. Is 5,7). Em vista da infidelidade de Israel, Jesus se apresenta como a verdadeira videira, capaz de produzir os frutos esperados: de direito e de justiça. Ele é autêntico.

O Pai é apresentado por Jesus como o agricultor que cuida da vinha para que ela produza bons frutos. Ele deseja instaurar na terra um projeto de liberdade e vida plena para todos. O cuidado do Pai se manifesta na imagem da poda, meio imprescindível para que a parreira produza em abundância bons frutos. A poda é graça divina, não é sinônimo de provação, de punição ou dor. A produção dos frutos depende do cuidado que tem o agricultor. Depende também da qualidade da videira, mas os frutos de justiça e de direito nascem dos ramos, dos membros da comunidade cristã.

Algumas palavras se repetem ao longo do texto mostrando o valor dado pelo evangelista João, com grande destaque para a palavra permanecer: oito vezes, significando a ligação a Jesus Cristo como seu discípulo, o amor a Ele acima de tudo e o alimentar-se desse amor; outra palavra que se destaca é fruto: aparece sete vezes no texto. Para alguns autores, os frutos são as boas obras; para outros, são a missão, o apostolado; e para outros, os frutos são o amor, pois Jesus afirma: “nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). Para produzir abundantes frutos, os discípulos devem escutar e aderir à Palavra de Jesus e permanecer nele; ramos é a terceira palavra que mais aparece no nosso texto deste domingo: seis vezes.  Os ramos são símbolo dos discípulos que devem produzir frutos. Mas a produção dos ramos depende da ligação com o tronco, depende de permanecer unidos a Jesus Cristo.

A nossa fé é marcada pelo encontro com uma pessoa: a pessoa de Jesus Cristo. Ela não se reduz a um elenco de preceitos, a um conjunto de doutrinas, mas tem sua força nesse encontro com Jesus Cristo, que dá sentido novo à nossa história. Nele encontramos a razão da nossa vida: na sua palavra, no seu projeto, no seu amor.  Também encontramos a motivação para dar sentido à vida dos outros e para transformar as nossas relações. Permanecer significa estar em Jesus e, a partir desse encontro com Ele, alargar o nosso horizonte.  

O convite dirigido por Jesus a permanecer nele e a produzir frutos é desafiador na nossa cultura, marcada pelo transitório, pelas rápidas transformações. O Documento de Aparecida diz que vivemos uma mudança de época. Parece que as coisas estão fora do lugar. O que antes servia para explicar o mundo já não resolve. Acontecem coisas que nunca pensávamos que fossem acontecer. Não conseguimos responder a muitas questões e, quando encontramos algumas respostas, mudam as perguntas. As transformações ocorrem com muita rapidez, os critérios de valores mudam. Por isso a dificuldade em permanecer, em criar relações estáveis. As relações se rompem com facilidade.  Claro que devemos mudar para melhor, aprofundar mais a nossa fé, amadurecer, mas permanecendo fiéis a Jesus Cristo, ao seu projeto de vida, aos seus valores. Dom Helder Câmara dizia: “é graça divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”. Também recordava que para permanecer o mesmo é preciso mudar muito.

A outra dificuldade é produzir frutos de amor. A intolerância é uma marca forte na cultura atual. A Campanha da Fraternidade deste ano lembra-nos que somos todos irmãos e irmãs e convida-nos à “Fraternidade e Amizade Social”, a reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, embora diferentes de nós (cf. Texto-base da CF 2024 n. 16).   O nosso subcontinente latino-americano e caribenho tem o maior número de católicos do mundo, mas também somos a região com a maior marca de injustiça social, de corrupção, de violência, de desonestidade. Que frutos estão produzindo muitos cristãos? Lamentavelmente, alguns produzem frutos de violência, frutos de intolerância; infelizmente ainda fazem isso em nome da sua pseudo fé. Chegam a agredir, em nome da defesa da sã doutrina, a quem pensa diferente, crê diferente, tem opções político-partidárias diferentes. Jesus Cristo nos pediu o amor: não somente entre nós que cremos nele, mas até aos nossos inimigos (cf. Mt 5,44).

No dia 2 de maio recordaremos os dez anos da Páscoa de Dom Tomás Balduíno. Agradecemos ao bom Deus pelos 31 anos do seu pastoreio na nossa Diocese de Goiás. Ele levantou a bandeira da defesa dos direitos humanos, sobretudo dos povos indígenas e dos trabalhadores sem-terra. Essa bandeira precisa continuar de pé. Ele permaneceu na escola de Jesus. Que Dom Tomás interceda por aqueles que tanto amou e que continuam sendo espoliados nos seus direitos. Que também inspire outros profetas na defesa dos direitos dos povos indígenas e dos sem-terra.

Permaneçamos na escola de Jesus Cristo! Nele encontremos o sentido para a nossa vida e nele busquemos também a razão para produzir frutos amorosos, que marquem a nossa vida e a vida da nossa sociedade.

+Dom Jeová Elias

Bispo Diocesano

 


Fonte: Diocese de Goiás